Texto base sobre os Estudos Culturais

É impossível compreender a essência dos Estudos Culturais e todas as possibilidades de desdobramentos teóricos e práticos sem compreender as suas influências e a sua construção histórica. Um texto indispensável para quem está começando a enveredar os estudos na área dos Estudos Culturais está publicado no site Cartografias, do programa de pós-graduação em Comunicação Social da PUC/RS. O texto intitulado Estudos Culturais é da professora Ana Carolina Escosteguy que também colaborou com o livro O que é, afinal, Estudos Culturais? Embora o texto seja direcionado para quem quer se apropriar do campo dos Estudos Culturais na perspectiva da Comunicação, ele serve como referência para todos os outros campos de pesquisa, incluindo a Educação. Boa leitura!

Mestrado em Estudos Culturais na USP

A consolidação da pesquisa em Estudos Culturais pode ser muito bem representada com a implantação do Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP). O programa apresenta uma única área de concentração, Estudos Culturais, com quatro linhas de pesquisa: 1. Cultura, Política e Identidades; 2. Crítica da Cultura; 3. Cultura e Ciência; 4. Cultura, Saúde e Educação. As preocupações assinaladas no programa indicam a diversidade e a pluralidade que permeiam as discussões sobre o tema. As inscrições para o processo seletivo estão abertas até o dia 21 de janeiro e as provas serão realizadas entre os dias 07 e 11 de fevereiro. A documentação necessária está no site do programa e é necessário apresentar um projeto de pesquisa para a seleção. Alguns textos dos autores indicados na bibliografia estão disponíveis aqui no blog.

Notas sobre um percurso metodológico

Vou aproveitar algumas dúvidas dos leitores para fazer algumas considerações sobre as opções metodológicas no campo dos Estudos Culturais. Para começo de conversa, os EC não possuem uma metodologia própria, mas sim uma grande flexibilidade na absorção de outras metodologias. Em princípio, a flexibilidade parece ser uma aliada na construção da metodologia, mas rapidamente ela se transforma em um problema a ser resolvido. O fato de possibilitar o uso de metodologia variada (e até mesmo a combinação de diferentes opções metodológicas), pode transformar a pesquisa em um Frankstein mal acabado. Alto lá! O campo dos Estudos Culturais não é caracterizado pela rigidez de outras concepções teórico-metodológicas, mas está longe de ser um lugar onde cabe qualquer coisa (ou quase tudo!). É preciso coerência em qualquer pesquisa acadêmica, não é possível fazer um relato etnográfico apresentando tabelas e gráficos do começo a fim. Como afirma Costa (2005), o campo de pesquisa dos estudos culturais é um campo que não se entrega facilmente e a própria noção de teoria é questionada. Este campo não se revela com facilidade aos olhos do pesquisador; ele exige um aprofundamento intenso de seus conceitos antes que possibilite a realização de sua prática. Isto significa que adequação e coerência são as palavras-chave neste processo e nenhuma estrutura fora de seus pressupostos pode ser inserida sem prejuízo para os resultados da pesquisa. Algumas opções se configuram melhor do que outras nos EC, mas tudo vai depender do objeto de pesquisa, objetivos etc. No caso do meu trabalho, fiz uma pequisa documental buscando categorias do campo dos EC (identidade, subjetividade, diversidade, equidade etc). O interessante é que a pesquisa documental costuma ser sonífera em muitos casos, mas como eu buscava elementos dos Estudos Culturais nos documentos oficiais do governo para formação de professores, o processo foi bem dinâmico. Eu poderia ter usado a análise do discurso para chegar ao mesmo resultado, mas optei por privilegiar os Estudos Culturais para que as suas categoria ficassem bem destacadas. Não era uma pesquisa que estava apenas utilizando os EC como fundamentação, eu queria que o campo teórico fosse o protagonista, inclusive no título! Meu objeto era a educação a distância, mas eu pretendia analisar as questões que não estão colocadas com clareza sobre o tema. Afirmar que a modalidade está na moda por causa da evolução tecnológica era meio chover no molhado, além disso todo mundo estava caminhando na mesma linha. O que me interessava era os meandros, as razões que levaram o governo a optar pela modalidade, já que a EAD sempre foi cercada de preconceito e marginalização. A formação dos professores a distância traria quanto do preconceito embutido na modalidade para a sua implementação? Não era possível negar também que o berço da EAD como acessibilidade e engajada estava na Open University, local onde Stuart Hall iniciou sua contribuição para os EC. Bom, uma coisa é certa, existem vários caminhos para realizar uma pesquisa com os EC, é necessário que cada um reflita sobre os seus próprios anseios e propósitos, vasculhe a sua alma e encontre o seu próprio caminho.

COSTA, J. Redesenhando a pesquisa a partir dos Estudos Culturais. In: VORRABER, M.; BUJES, M. Caminhos Investigativos III: riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

De volta ao blog

Depois de um longo tempo sem escrever no blog, retomo as atividades e me desculpo pela longa ausência. Tenho duas boas justificativas para o sumiço e faço questão de contar porque o blog vem recebendo muitos acessos. A ideia inicial era criar um espaço para discussão sobre os Estudos Culturais, especificamente no campo da educação e o uso das tecnologias. Eu e minha colega de doutorado estávamos arrancando todos os fios de cabelo ano passado, tentando dar conta de um referencial teórico que, embora flexível, é extremamente árduo em seu percurso. Talvez seja justamente na flexibilidade que resida a sua complexidade. Além de nossa dificuldade em desvendar todos os caminhos metodológicos e epistemológicos dos EC, eu passei no concurso público para professora da Universidade Federal de Pernambuco (os detalhes da via crucis estão relatados aqui). Como tantos conhecidos, eu espera que a minha convocação só acontecesse depois de seis meses, mas os anjos estavam determinados a me livrar do meu inferno particular e, em menos de vinte dias, eu fui chamada! Corri feito uma louca para defender a tese e assumir a vaga, apesar do desespero e estresse posso dizer que entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Pouco tempo depois, a minha colega e autora de blog foi internada, diagnosticada com um quadro de esclerose múltipla (ela já está melhor e conta a sua luta com muito bom humor em seu blog). Assim, diante do caos pessoal, profissional e médico das autoras, o blog ficou mesmo abandonado. Porém, fiquei surpresa com a quantidade de acessos que ele vem recebendo, o que mostra a necessidade de um espaço para discussão do tema. Estou de volta com a pretensão de compartilhar as minhas descobertas, dúvidas e sugestões sobre o campo dos Estudos Culturais. Sejam bem vindos, pois a nova temporada já começou!

Estudos Culturais, Educação e Pedagogia

Os Estudos Culturais constitui um campo de pesquisa e de estudo bastante amplo, abarcando uma multiplicidade de objetos de estudo, metodologias e teorias. Busca aporte teórico nas diversas disciplinas científicas, embora não se constitua propriamente uma disciplina da ciência, ao menos nos moldes tradicionais da Ciência. A educação e a Pedagogia, da mesma forma se interconectam com o que chamamos de “ciências auxiliares”; são as diversas disciplinas que constituem epistemologicamente Continuar lendo

O que é, afinal, Estudos Culturais?

Esta pergunta é o título de um livro fundamental para quem quer desbravar os estudos culturais enquanto campo de estudo e pesquisa. Como vocês podem ver não é uma pergunta fácil de ser respondida, já que é preciso ler o livro inteiro para começar a ter alguma perspectiva sobre  o assunto. Considerado como um movimento ou uma rede (JOHNSON. 2006), longe de ser uma disciplina, podemos afirmar que a principal característica dos Estudos Culturais é apresentar versões distintas, literárias, sociológicas, históricas ou geográficas, revelando cada uma, um pequeno aspecto da cultura. A abordagem de cultura também não é tão simples assim, é um olhar distinto da antropologia. O olhar sobre a cultura nos estudos culturais, pode ser resumido como um termo capaz de designar “todo um modo de vida” (WILLIAMS, 1961), de um grupo social conforme sua estruturação pela representação e pelo poder (FROW e MORRIS,2006). É sobre estas questões que vamos tratar aqui neste blog.