Vou aproveitar algumas dúvidas dos leitores para fazer algumas considerações sobre as opções metodológicas no campo dos Estudos Culturais. Para começo de conversa, os EC não possuem uma metodologia própria, mas sim uma grande flexibilidade na absorção de outras metodologias. Em princípio, a flexibilidade parece ser uma aliada na construção da metodologia, mas rapidamente ela se transforma em um problema a ser resolvido. O fato de possibilitar o uso de metodologia variada (e até mesmo a combinação de diferentes opções metodológicas), pode transformar a pesquisa em um Frankstein mal acabado. Alto lá! O campo dos Estudos Culturais não é caracterizado pela rigidez de outras concepções teórico-metodológicas, mas está longe de ser um lugar onde cabe qualquer coisa (ou quase tudo!). É preciso coerência em qualquer pesquisa acadêmica, não é possível fazer um relato etnográfico apresentando tabelas e gráficos do começo a fim. Como afirma Costa (2005), o campo de pesquisa dos estudos culturais é um campo que não se entrega facilmente e a própria noção de teoria é questionada. Este campo não se revela com facilidade aos olhos do pesquisador; ele exige um aprofundamento intenso de seus conceitos antes que possibilite a realização de sua prática. Isto significa que adequação e coerência são as palavras-chave neste processo e nenhuma estrutura fora de seus pressupostos pode ser inserida sem prejuízo para os resultados da pesquisa. Algumas opções se configuram melhor do que outras nos EC, mas tudo vai depender do objeto de pesquisa, objetivos etc. No caso do meu trabalho, fiz uma pequisa documental buscando categorias do campo dos EC (identidade, subjetividade, diversidade, equidade etc). O interessante é que a pesquisa documental costuma ser sonífera em muitos casos, mas como eu buscava elementos dos Estudos Culturais nos documentos oficiais do governo para formação de professores, o processo foi bem dinâmico. Eu poderia ter usado a análise do discurso para chegar ao mesmo resultado, mas optei por privilegiar os Estudos Culturais para que as suas categoria ficassem bem destacadas. Não era uma pesquisa que estava apenas utilizando os EC como fundamentação, eu queria que o campo teórico fosse o protagonista, inclusive no título! Meu objeto era a educação a distância, mas eu pretendia analisar as questões que não estão colocadas com clareza sobre o tema. Afirmar que a modalidade está na moda por causa da evolução tecnológica era meio chover no molhado, além disso todo mundo estava caminhando na mesma linha. O que me interessava era os meandros, as razões que levaram o governo a optar pela modalidade, já que a EAD sempre foi cercada de preconceito e marginalização. A formação dos professores a distância traria quanto do preconceito embutido na modalidade para a sua implementação? Não era possível negar também que o berço da EAD como acessibilidade e engajada estava na Open University, local onde Stuart Hall iniciou sua contribuição para os EC. Bom, uma coisa é certa, existem vários caminhos para realizar uma pesquisa com os EC, é necessário que cada um reflita sobre os seus próprios anseios e propósitos, vasculhe a sua alma e encontre o seu próprio caminho.
COSTA, J. Redesenhando a pesquisa a partir dos Estudos Culturais. In: VORRABER, M.; BUJES, M. Caminhos Investigativos III: riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
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